David Tennant e o efeito nostalgia



Atualmente, o universo da cultura pop vive uma verdadeira “pandemia” de nostalgia. Entre os vários exemplos de como isso acontece, um deles certamente é a volta de atores marcados por um papel às produções pelas quais já se tornaram inesquecíveis para os fãs. Esse é o caso de David Tennant, o icônico intérprete do 10º Doutor, que retornou brevemente a Doctor Who como o rosto da 14ª regeneração do Senhor do Tempo nos três episódios especiais de 60 anos. Pode até parecer um assunto já ultrapassado, mas o recente retorno de Billie Piper à série o torna novamente atual.

No cinema, as adaptações de quadrinhos são o principal foco desse movimento. Retornos como Andrew Garfield em Homem-Aranha: Sem Volta para Casa (2021) e Michael Keaton em The Flash (2023) reforçam esse argumento. Outro exemplo parecido é a volta de Robert Downey Jr. ao MCU que, mesmo em um papel diferente, resgata a lembrança do seu Homem de Ferro. Em comum, todos esses casos mostram como a indústria aposta em um jogo seguro para atrair público e revitalizar franquias que enfrentam certo desgaste ou perda de relevância, assim como acontecia com Doctor Who antes da chegada do 14º Doutor.

O fato é que a base de fãs do 10º Doutor nunca foi pequena e tampouco esteve desamparada. Mesmo fora da televisão, o ator esteve presente em diversos audiodramas da Big Finish, além de seu personagem continuar ativo em HQs do universo expandido, chegando até a protagonizar crossover com a 13ª Doutora (Jodie Whittaker) quando ela era a protagonista. Por isso, o impacto de sua volta no fandom e na recepção crítica foi extremamente positivo.

Por conta das comemorações de mais de seis décadas da série, era esperado que houvesse alguma diferença entre sua era original e essa nova regeneração do Senhor do Tempo. O que se viu, no entanto, foi um misto de novidade com nostalgia. Houve releituras de tramas do universo expandido, como em The Star Beast, de histórias da primeira fase de Russell T. Davies como showrunner, como em Wild Blue Yonder, e até de arcos antigos, como em The Giggle, que trouxe de volta o vilão clássico Toymaker.

Para o fã, essas referências variadas tornam o efeito nostálgico muito interessante, já que é divertido encontrar os easter eggs e estabelecer conexões com outras tramas. O mesmo vale para ver este Doutor citar companions e até agir como outros Doutores em determinados momentos. São detalhes que marcam a experiência de forma única. Por outro lado, o excesso de ligação com o passado traz riscos, entre eles a sensação de pausa na evolução do personagem principal. Aparentemente, havia consciência disso durante os especiais, já que essa fase, além de breve, abriu caminho para a chegada de Ncuti Gatwa como o 15º Doutor, apresentado como uma regeneração mais leve e equilibrada.

Ainda assim, o retorno de Billie Piper após a saída precoce de Ncuti reacendeu o efeito nostálgico e levantou especulações sobre um novo reencontro dela com David Tennant, lembrando a icônica dupla 10º Doutor e Rose Tyler. Como se isso não bastasse, a Era do 15º Doutor também resgatou diversos elementos das temporadas anteriores da primeira fase de Russell T. Davies.

Desse modo, a série ainda demonstra certa dificuldade em equilibrar nostalgia e inovação. O desafio está em honrar o legado sem ficar presa a ele. O futuro de Doctor Who depende desse equilíbrio, e é justamente essa tensão que mantém a expectativa dos fãs. Afinal, independente de quem esteja no comando da TARDIS, sempre haverá espaço para novas histórias tão incríveis quanto as que já marcaram o passado.

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