Por que Silence in the Library/Forest of the Dead continua crescendo em importância na história de Doctor Who
Um dos pontos mais marcantes em Doctor Who é como muitas histórias se tornam mais importantes e significativas com o passar do tempo. Por isso, com muito prazer venho revisitar um arco criativo, empolgante e até mesmo pioneiro: Silence in the Library/Forest of the Dead.
Começando pelo Vashta Nerada, as sombras devoradoras de carne que formam a ameaça da trama. Apresentadas por meio de um conceito simples, mas nem por isso menos assustador, essas sombras entram para a famosa lista de novos medos criados por conta da série. O melhor de tudo é como a atmosfera de suspense funciona tão bem, sem a necessidade de grandes efeitos especiais e apoiada em escolhas de iluminação e direção que tornam a biblioteca um espaço grandioso, mas ao mesmo tempo ameaçador.
Outro detalhe está em como o roteiro desenvolve duas subtramas, uma na biblioteca e outra no mundo virtual, e as interliga com o uso de metalinguagem. A menina Charlotte vê o que ocorre na biblioteca em apenas fragmentos, saltos temporais entre os acontecimentos, como se assistisse a um programa de TV. Isso fica ainda mais evidente quando ela reage emocionada a diferentes situações da realidade construída para Donna Noble. Essa dimensão é especialmente importante, já que Donna experimenta uma vida idealizada no mundo virtual, antecipando a dor de sua despedida e reforçando o peso do que ela perde ao lado do Doutor. Esse detalhe lembra um pouco o que a Marvel faria em Wandavision (2021), lembrando que o episódio foi exibido em 2008.
A última observação fica para o destaque da introdução de River Song e sua relação não linear com o Doutor, algo que teria um impacto maior com o desenvolvimento da personagem nas temporadas posteriores, principalmente quando lembramos da sua jornada com o 11º Doutor e do emocionante encontro com a 12ª regeneração do Senhor do Tempo. Inclusive, não há como deixar de relacionar isso com Rogue, personagem introduzido na primeira temporada da série pelo Disney+.
Vale também notar como esse arco antecede diretamente Midnight, outro episódio da quarta temporada que explora o terror psicológico, mas em um registro completamente distinto. Enquanto Silence in the Library/Forest of the Dead aposta na grandiosidade da biblioteca infinita e em conexões emocionais, Midnight se fecha no espaço claustrofóbico de uma nave e mergulha no medo coletivo. Nos dois casos, o roteiro mostra como Doctor Who consegue provocar tensão tanto pelo mistério externo, representado pelas sombras devoradoras de carne, quanto pelo colapso interno da confiança humana. Essa proximidade reforça a diversidade criativa da temporada e ajuda a consolidar a força da série em trabalhar diferentes camadas do medo.
Enfim, por todos esses motivos esse arco ficou melhor com o tempo, assim como ocorreu com The Empty Child/The Doctor Dances, que também foram escritos pelo mesmo roteirista, Steven Moffat. Mais que um ótimo par de episódios, ele funciona como um prenúncio do estilo que Moffat desenvolveria ao se tornar showrunner, usando memória, tempo e emoção como motores narrativos.
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